”Dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o amor da amizade” (Cícero)

25 outubro 2009

A faculdade de recordar

A faculdade de recordar, não obstante seu emprego cotidiano nas atribuições concernentes ao mundo físico, pode, e deve, ser utilizada em acepções superiores. Esta prerrogativa é inerente ao ser humano e, estranho que possa parecer, tem sido muito pouco experimentada pelo homem.
O conceito de recordar tem uma concepção tão ampla e generosa, que tem sido ao longo de dezenas de séculos objeto de estudos para compreender toda sua intensidade.
Como não sou filósofo, nem pretendo sê-lo, limito-me, limitado que sou, a colocar algumas compreensões sobre esta preciosa faculdade.
Platão considerou a existência de uma distinção entre memória e recordação, consistindo como base principal do seu pensamento, a percepção de que: “a memória seria a faculdade do recordar sensível, a retenção das impressões e das percepções”, enquanto “a recordação (reminiscência) seria um ato espiritual, isto é, o ato pelo qual a alma vê no sensível o inteligível, de acordo com os modelos ou arquétipos contemplados quando estava desapegada dos grilhões e do sepulcro do corpo”.
Em “Experiência, memória e educação”, texto integrante dos “Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão” (ANPUH/SP – USP. 08 a 12 de setembro de 2008), a mestre em ciências sociais
Maria Sílvia Duarte Hadler nos ilustra com a seguinte análise sobre a faculdade de recordar, sob a ótica da vida moderna nos grandes centros urbanos:
“Se as possibilidades de experiência têm sido cada vez mais dificultadas na modernidade avançada, as possibilidades de memória também estariam ameaçadas. A faculdade de recordar estaria fragilizada. Memórias instituem identidades. As experiências pelas quais passamos oferecem o substrato, a matéria viva, sensível, da recordação ou da rememoração. O sujeito moderno nas cidades, em especial nas grandes cidades, vive a experiência do choque na modernidade, acuado pelos 'estímulos nervosos' a que se referia G. Simmel, constantes e cada vez mais intensos. Submetido aos perigos da cidade, à violência e à insegurança das ruas, às dificuldades da sobrevivência, o sujeito urbano contemporâneo sente-se ameaçado, em perigo, coloca-se constantemente na defensiva, renunciou ou foi pressionado a abdicar da possibilidade de constituir experiências. À deriva por espaços em constante mutação, refugia-se nas vivências urbanas somatizadas, esquecido e desmemoriado de possibilidades outras de constituição do novo, de produção de novos sentidos”.
Na obra de
Emmanuel, psicografada por Francisco Cândido Xavier, Religião dos Espíritos – Editora FEB – 1960 , a faculdade de recordar é associada à outras leis universais, como a lei de causa e efeito e a lei do retorno."A faculdade de recordar é o agente que nos premia ou nos pune, ante os acertos e os desacertos da rota.
Dessa forma, se os atos louváveis são recursos de abençoada renovação e profunda alegria nos recessos da alma, as ações infelizes se erguem, além do túmulo, por fantasmas de remorso e aflição no mundo da consciência"
.
A mestre em filosofia
Cláudia Cerqueira do Rosario (Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO) em seu trabalho “O lugar mítico da memória”, aborda o tema sob a perspectiva do resgate do tempo.
Mircea Eliade
nos diz: Não só porque os mitos fornecem uma explicação do Mundo e da própria maneira de estar no mundo, mas sobretudo porque, ao recordar, ao reactualizá-los, ele é capaz de repetir o que os deuses, os heróis ou os antepassados fizeram ab origine. Conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das coisas. Por outras palavras, aprende-se não só como as coisas passaram a existir, mas também onde as encontrar e como fazê-las ressurgir quando elas desaparecem.
O termo ‘recordar’ é aqui fundamental. No contexto mítico, recordar significa resgatar um momento originário e torná-lo eterno em contraposição à nossa experiência ordinária do tempo como algo que passa, que escoa e que se perde. A recordação, como resgate do tempo, confere desta forma imortalidade àquilo que ordinariamente estaria perdido de modo irrecuperável sem esta re-atualização. Traz de novo a presença dos deuses, os feitos exemplares que forjam os heróis e que perseguimos ainda hoje como modelos exemplares, nos coloca novamente em presença das tradições dos antepassados que nos tornaram o que somos. Assim, como dissemos, o papel da memória não é apenas o de simples reconhecimento de conteúdos passados, mas um efetivo reviver que leva em si todo ou parte deste passado. É o de fazer aparecer novamente as coisas depois que desaparecem. É graças à faculdade de recordar que, de algum modo, escapamos da morte que aqui, mais que uma realidade física, deve ser entendida como a realidade simbólica que cria o antagonismo-chave com relação ao nosso tema: o esquecimento. O esquecimento é a impermanência, a mortalidade. E não nos dirá Platão mais tarde que 'a natureza mortal procura, na medida do possível, ser sempre e ficar imortal'? O lugar da memória é, pois, o lugar da imortalidade
.

24 outubro 2009

Novo e-mail para contato

O novo e-mail para contato entre a turma é nostemposdovietnan@ig.com.br (senha 21662166). Quem quiser pode acessar o novo e-mail e enviar suas mensagens para a turma. O grupo com nossos endereços de e-mails é Turma ETN.