”Dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o amor da amizade” (Cícero)

10 julho 2010

Festa junina do Ex-Alunos da ETN

Hoje, no encontro mensal promovido pela AEACEFETN, aconteceu a tradicional festa junina dos ex-alunos.
Nestes dias de finais de Copa do Mundo, a turma tem ficado em casa, de molho no velho sofá da sala, vendo aquelas peladinhas e ouvindo o besteirol do "Gavião Bueno" e sua patota.
Da nossa turma, compareceram Vera, Sueli, Klautau e Vila Flor (o CGS sumiu, hem?).
Na festa não faltou o tradicional “casamento na roça”, a “dança da quadrilha” e os doces (pé-de-moleque, bolo de aipim, canjica, entre outros).
O próximo encontro será no dia 14 de agosto

05 julho 2010

E tudo mudou ...

Atendendo à solicitação da colega Neida Marina Ferrrari Outeiro, segue abaixo a postagem de um poema que lhe foi enviado no seu aniversário: “E TUDO MUDOU ...”, de Luis Fernando Veríssimo.
Antes da postagem, cabem algumas considerações sobre o tema da poesia. No texto, em prosa, o autor narra a similaridade temporal de diversos produtos, objetos, pessoas, procedimentos e acontecimentos que fizeram e fazem parte – em maior ou menor escala, dependendo de cada um – do nosso cotidiano. Neste caso, atuou a faculdade de recordar, permitindo o resgate de termos praticamente esquecidos, comparando-os aos similares atuais.
Na postagem do dia 25/10/2009, neste Blog, foi abordado o tema “faculdade de recordar”. Na referida postagem há uma menção de parte de um texto de Mircea Eliade: “(...) O termo ‘recordar’ é aqui fundamental. No contexto mítico, recordar significa resgatar um momento originário e torná-lo eterno em contraposição à nossa experiência ordinária do tempo como algo que passa, que escoa e que se perde. A recordação, como resgate do tempo, confere desta forma imortalidade àquilo que ordinariamente estaria perdido de modo irrecuperável sem esta re-atualização (...)”.
Este recurso é com freqüência observado na literatura e na música. E por falar em música, neste início de inverno, em que mais reclusos nos entregamos às
reminiscências radiofônicas (nunca abandonadas), ouvimos dia destes uma preciosa obra do mestre Nelson Ferreira (maestro Nelson Heráclito Alves Ferreira): o frevo Evocação* (música ao fundo – ligue o auto falante do PC, aguarde cerca de 1 minuto e ouça uma antiga gravação do Bloco Batutas de São José).
Esta música (composta em 1957), que posteriormente recebeu a extensão “nº 1” em seu nome, por ter sido seguida pelas obras Evocação nº 2 até a nº 7, do mesmo autor, recorda passados carnavais
do Recife e seus personagens.
Os versos inicias da canção se originam nas recordações do músico; recordações de quando era ainda jovem: “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, cadê teus blocos famosos? Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôis-Fum, dos carnavais saudosos (...)” .

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* No final da Postagem leia a letra completa de Evocação nº 1.
.O escritor gaúcho é 34 anos mais novo que o maestro pernambucano (já falecido), As recordações de Veríssimo remontam à época em que também era jovem, à época em que o “Moreno Bom” compôs sua Evocação, recordando o carnaval pernambucano – blocos e personagens – das décadas de 1920 e 1930.
Então, considerações feitas, vamos aos versos de Luis Fernando Veríssimo.
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E tudo mudou ...
.O rouge virou blush
O pó de arroz virou pó compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
‘Problemas de moça’ viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal.
Ninguém mais vê...
Ping-pong virou Babaloo
O A-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O album de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do “não” não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato, Cãssia e Cazuza, Lennon e Elvis.
Todos Anjos, agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência esta coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças.
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E você? Já se deu tocou de tudo o que viveu?
.Evocação nº 1
.Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôis-Fum
Dos carnavais saudosos
Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôs-Fum
Dos carnavais saudosos
Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho Raul Moraes
Adeus adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E Recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia.