
Antes da postagem, cabem algumas considerações sobre o tema da poesia. No texto, em prosa, o autor narra a similaridade temporal de diversos produtos, objetos, pessoas, procedimentos e acontecimentos que fizeram e fazem parte – em maior ou menor escala, dependendo de cada um – do nosso cotidiano. Neste caso, atuou a faculdade de recordar, permitindo o resgate de termos praticamente esquecidos, comparando-os aos similares atuais.

Este recurso é com freqüência observado na literatura e na música. E por falar em música, neste início de inverno, em que mais reclusos nos entregamos às

Esta música (composta em 1957), que posteriormente recebeu a extensão “nº 1” em seu nome, por ter sido seguida pelas obras Evocação nº 2 até a nº 7, do mesmo autor, recorda passados carnavais

Os versos inicias da canção se originam nas recordações do músico; recordações de quando era ainda jovem: “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, cadê teus blocos famosos? Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôis-Fum, dos carnavais saudosos (...)” .
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* No final da Postagem leia a letra completa de Evocação nº 1.
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Então, considerações feitas, vamos aos versos de Luis Fernando Veríssimo..
E tudo mudou ...
.O rouge virou blush
O pó de arroz virou pó compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
‘Problemas de moça’ viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal.
Ninguém mais vê...
Ping-pong virou Babaloo
O A-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O album de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do “não” não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato, Cãssia e Cazuza, Lennon e Elvis.
Todos Anjos, agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência esta coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças..
E você? Já se deu tocou de tudo o que viveu?
.Evocação nº 1
.Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôis-Fum
Dos carnavais saudosos
Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôs-Fum
Dos carnavais saudosos
Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho Raul Moraes
Adeus adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E Recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia.
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